Para muitos uma medida drástica, a mastectomia preventiva tem uma alta taxa de sucesso entre pacientes com propensão ao câncer. Sendo assim, para retomar a autoestima, há a recomendação de reconstrução das mamas, que atualmente apresenta diversos avanços.
Em maio de 2013, dois dias depois do Dia das Mães, a atriz americana Angelina Jolie surpreendeu o mundo ao publicar um artigo no The New York Times relatando ter feito uma mastectomia preventiva ao câncer de mama. A atriz, conhecida pela ótima atuação desde a juventude, bem como pela beleza e sensualidade atemporais, justificou a medida pelo amor que sente pelos seis filhos: “Passei pelo que, imagino, milhares de outras mulheres já passaram. Disse a mim mesma para ficar calma e ser forte que eu não tinha razão para pensar que não viveria para ver minhas crianças crescerem e para conhecer meus netos”.
Angelina perdeu a própria mãe, Marcheline Bertrand, depois de uma batalha de oito anos contra o câncer de mama e ovário. Ela relata na carta, inclusive, que Marcheline só conheceu três de seis netos, e que seus outros filhos não teriam a chance de conhecer a avó materna.
A ganhadora do Oscar em 2000 realizou um mapeamento genético que revelou uma mutação no gene BRCA1, que aumenta em 85% a probabilidade de desenvolver tumores mamários e em 60% as chances de câncer de ovário. Marcheline teve o diagnóstico aos 49 anos, e Angelina, quando tomou a decisão e realizou os procedimentos, tinha 39.
Segundo estudo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia , essas mutações são conhecidas como a causa mais frequente entre as predisposições ao câncer mamário e ovariano. A estimativa é de que 80% dos casos de câncer hereditários esteja relacionado à essa mutação – e essas pacientes geralmente apresentam quadros de aparecimento precoce e agressivo. Recomendam-se então mapeamentos genéticos como o realizado pela atriz, a fim de diminuir drasticamente as chances altas de desenvolver a doença.
O Procedimento de Angelina
A mastectomia dupla preventiva consiste na retirada da glândula mamária, juntamente dos ductos mamários, bem como os linfonodos da axila. O procedimento retira toda a área interna da mama, deixando o músculo peitoral, e a pele com auréola e mamilos. As taxas de sucesso são muito altas – a redução das chances de desenvolver câncer de mama diminui em até 90%.
Mas não é segredo para ninguém que os seios são uma parte importante da identidade corporal feminina. São pontos de exploração de beleza, sedução e segurança, e quase todas as roupas desenvolvidas para mulheres, de maneira ou outra, evidenciam os seios. Eles ainda têm uma forte conexão com a maternidade, devido à amamentação. Portanto, vale lembrar que a mastectomia preventiva não é uma indicação unânime – são necessários vários exames para a constatação da necessidade de uma decisão tão drástica e ligada à autoestima das pacientes.
Reconstrução da Feminilidade
A mastectomia preventiva pode conter, no mesmo procedimento, uma reconstrução mamária. Ela deve levar em consideração o formato inicial da sua mama, assim como o tamanho e a aparência dela, para que o resultado final seja o mais satisfatório. A reconstrução pode ser imediata – feita junto à cirurgia de mastectomia – ou algum tempo depois, denominada reconstrução tardia.
A parte da retirada das glândulas deve ser feita por um mastologista, mas na reconstrução é a vez do cirurgião plástico entrar em cena. Nela, são colocadas próteses como o implante de silicone ou bolsas expansoras com soro, que prepararão a região para receber a prótese mais adiante. Em casos de mamas muito grandes ou com sobra de pele, pode ser necessária a retirada de tecido, a fim de deixar as próteses com a aparência mais natural possível.
Metodologias mais inovadoras ainda propõem a possibilidade de utilizar retalhos de tecido adiposo da barriga para inserir na região a ser reconstruída, ou, em casos nos quais houve comprometimento extenso da pele na mastectomia, indica-se a retirada do músculo da grande dorsal – um músculo da região das costas. O pós-operatório tem cuidados específicos, é claro, mas é considerado relativamente simples, e prevê-se que a paciente retome a sua rotina normal em pouco tempo.
O que não podemos deixar de lembrar é que, para tudo sair conforme o esperado, a escolha dos profissionais que acompanharão a paciente durante esse processo delicado é fundamental. Estar acompanhada por um médico que transmita segurança em relação ao procedimento cirúrgico e, ao mesmo tempo, ofereça o apoio emocional necessário, fará uma grande diferença para a autoestima da mulher. Com certeza, essa não é uma decisão fácil.